As denúncias de Garotinho e a pressa de Motta para votar o relatório de Derrite: Existe pacto para proteger as facções

Anthony Garotinho e Cláudio Castro (Foto: ABr)
Ex-governador do Rio de Janeiro acusou Cláudio Castro de fazer nomeações que beneficiaram o Comando Vermelho
brasil247.com/
Em entrevista a este jornalista, na TV 247, o ex-governador Anthony Garotinho acusou o governo de Cláudio Castro (PL) de manter um “pacto” com o Comando Vermelho (CV). Parte dessas acusações se relaciona a documentos e depoimentos que coincidem com investigações da Polícia Federal, implicando dois secretários com antigos vínculos no Estado.
Desde que as denúncias vieram à tona, o governo estadual foi procurado por nossa reportagem para se manifestar, mas não apresentou resposta formal até agora.
As investigações mencionam Alessandro Pitombeira Carracena como figura-chave na articulação política com a facção. Carracena ocupou cargos estratégicos no governo de Castro. Foi secretário de Estado de Esporte e Lazer e subsecretário de Defesa do Consumidor.
Também foi um dos quadros mais importantes na gestão de Marcelo Crivella na Prefeitura do Rio de Janeiro, como secretário municipal de Ordem Pública, atuando diretamente na segurança da cidade.
Carracena foi preso na Operação Zargun, da Polícia Federal, e é apontado por investigadores como possível elo político da facção. Em depoimento, ele disse que soube que o titular da pasta de Defesa do Consumidor, Gutemberg Fonseca, seu superior hierárquico, recebeu o traficante Gabriel Dias de Oliveira, conhecido como Índio do Lixão.
O próprio secretário teria lhe falado sobre o encontro e teria afirmado que partiu do próprio traficante a proposta de apoio e “cobertura política” ao CV.
“O esquema criminoso evidencia uma profunda infiltração no sistema político e na administração pública, buscando capturar setores estratégicos do Estado para garantir a impunidade e consolidar a dominação territorial da facção”, registrou a Polícia Federal, em relatório.
Gutemberg Fonseca foi árbitro de futebol e chegou a integrar os quadros da Fifa. Porém, acabou sendo afastado, e acusou o presidente da Comissão de Arbitragem Brasileira de comandar esquema para manipular resultado
Ele próprio acabou denunciado por colegas de desonestidade, como a arbitragem de um jogo entre América de Natal e Brasiliense. A acusação acabou arquivada, por falta de provas.
A denúncia da PF sugere que o encontro de Gutemberg com Índio do Lixão não foi meramente simbólico, mas parte de uma estratégia de cooptação do CV dentro do Estado. Fonseca, por sua vez, nega ter qualquer relação imprópria com Gabriel Dias. Segundo sua assessoria, se houve contato, ele foi “absolutamente casual” e não envolvia envolvimento ilícito.
Para a Polícia Federal, os diálogos e depoimentos da Operação Zargun indicam uma tentativa de infiltração do CV no Executivo estadual, por meio de nomeações e vínculos pessoais.
Segundo a investigação, a organização criminosa buscava proteção e influência para evitar repressões ou obter vantagens operacionais.
A PF afirma também que existe uma estratégia deliberada de “capturar setores estratégicos do Estado para garantir impunidade e dominação territorial”.
Apesar das suspeitas, os investigadores não afirmam que Fonseca foi oficialmente acusado, e ele não consta como indiciado na Zargun até onde apurações públicas indicam.
As denúncias de Garotinho
As afirmações do ex-governador do Rio agora ecoam em partes das investigações da PF: ele já havia afirmado que o Estado de Castro “entregou cargos estratégicos” a pessoas próximas ao CV, para consolidar um suposto pacto.
Também falou sobre a manobra que colocou TH Jóias na Assembleia Legislativa (Alerj) TH Jóias é amigo íntimo de Índio do Lixão e foi preso pela Polícia Federal acusado de lavar dinheiro e de vender armas para o Comando Vermelho.
TH Jóias se tornou deputado estadual em junho de 2024, depois que Cláudio Castro nomeou Rafael Picciani para a Secretaria de Esportes e Lazer e abriu uma vaga para TH Jóias na Alert.
Para Garotinho, a decisão de Cláudio Castro de determinar a operação no Alemão e na Penha seria cortina de fumaça. Tiraria do foco as revelações de infiltração do Comando Vermelho nas instituições de Estado, com a caneta do próprio governador.
Segundo Garotinho, que foi secretário de Segurança Pública, TH Jóias estaria pressionando por apoio político. “Ele teria dito que se sente abandonado e que, se até o fim de novembro não tiver apoio, pode fazer delação premiada”, comentou Garotinho.
A menção a Carracena e a Fonseca reforça tese do pacto, ao ligar a investigação política e criminal a figuras centrais da administração estadual.
Segundo Garotinho, esse arranjo seria parte de uma estrutura de poder em que o crime organizado não só opera de forma violenta nas favelas, mas se articula politicamente dentro do Estado para garantir proteção e influência.
Se confirmadas, as conexões entre o Comando Vermelho e o Estado podem configurar mais que corrupção: uma parceria estratégica para manter poder e território.
Ao mesmo tempo, com apoio de Cláudio Castro e de outros governadores de extrema direita, avança na Câmara dos Deputados a tramitação do relatório do deputado federal Guilherme Derrite sobre o Projeto da Lei Antifacção.
Derrite deixou a Secretaria de Segurança Pública em São Paulo só para ser o relator da matéria, e produziu até agora textos criticados por especialistas. Uma das mudanças sugeridas tira poderes da Polícia Federal e a subordina ao interesse dos governadores. Outra mudança altera a distribuição do Fundo Nacional de Segurança Pública e encolhe o orçamento da PF.
Aliado de Tarcísio de Freitas, o presidente da Câmara, Hugo Motta, pautou a votação do relatório de Derrite para esta terça-feira. Chama a atenção a pressa, que só interessa a quem está preocupado com os avanços da investigação da Polícia Federal. Tarcísio de Freitas, chefe de Derrite, estaria? E Cláudio Castro?
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