O terrorismo da CIA volta a assombrar a América Latina

O presidente dos EUA, Donald Trump, na Casa Branca - 26/02/2025 (Foto: REUTERS/Brian Snyder)

Os lances da CIA são cinematográficos e não seria exagero classificá-los como terrorismo

Paulo Henrique Arantes
brasil247.com/

Nutrir antipatia por Nicolas Maduro e seus métodos e duvidar do resultado da eleição venezuelana por ele proclamado não justificam a naturalização de uma ação da CIA dentro da Venezuela, como fazem os jornalões brasileiros. O combate ao tráfico de drogas não cola nem em ginasiais. Além da presente e flagrante violação do Direito Internacional, é a História quem condena o modus operandi do órgão de inteligência americano, na verdade um grupo de espionagem altamente qualificado para sabotar governos, assassinar chefes de Estado e outras maldades.

Os lances da CIA são cinematográficos e não seria exagero classificá-los como terrorismo, termo ora conceituado: uso sistemático da violência (ou de fornecimento de meios para tanto) — ou da ameaça de violência — para fins políticos, com o objetivo de intimidar, coagir ou desestabilizar governos ou populações civis. É que faz o órgão dito “de inteligência”, sem tirar nem por.

Basta ver o que fez a CIA no Brasil do golpe militar de 1964. A agência deu apoio logístico e financeiro à conspiração que derrubou o presidente João Goulart. A Operação Brother Sam previa o fornecimento de combustível, armas e navios aos golpistas. O apoio da CIA aos golpistas militares é indissociável da brutal ditadura que oprimiu o Brasil por 21 anos.

A Operação Condor, outro exemplo, é a cereja do bolo terrorista da CIA na América do Sul. Chile, Argentina, Uruguai, Brasil, Paraguai e Bolívia foram vítimas dessa mega-operação coordenada pela central de inteligência americana, mediante apoio logístico, troca de informações e treinamento de agentes para perseguição transnacional de opositores de esquerda. O resultado foram centenas de assassinatos e desaparecimentos, algo que se tornou corriqueiro na Guerra Fria, por obra da dita-cuja.

A perseguição aos Tupamaros, em reforço à ditadura de Juan María Bordaberry no Uruguai, no começo dos anos 1970, deu-se com a decisiva ajuda da CIA, cujo modelo de treinamento de torturadores está perfeitamente descrito em “Estado de Sítio”, filmaço de Constantin Costa-Gavras.

Nem se fale das atividades preliminares que resultaram na morte do presidente chileno Salvador Allende em 1973 e no que tudo aquilo resultou, pelas mãos de um dos seres mais repugnantes da História da humanidade, Augusto Pinochet.

No Chile, a CIA – ou os Estados Unidos, tanto faz – financiou a imprensa reacionária contra Allende, em especial o jornal “El Mercurio”, que sabotou a economia de várias formas, em especial incentivando uma greve de caminhoneiros. A ditadura Pinochet, abençoada pela CIA e pelos Estados Unidos, durou 17 anos. De novo Costa-Gavras produziu um filme espetacular a respeito: “Missing”, ou “Desaparecido”, que retrata com fidelidade a contribuição decisiva dos Estados Unidos para aquela triste realidade.

Republicana Dominicana, Bolívia, Argentina (mediante completo apoio de inteligência à junta militar de Jorge Videla), Nicarágua, El Salvador, Honduras, Guatemala, Panamá e Cuba (quanto a esta, vale um artigo exclusivo: só atentados contra Fidel Castro foram mais de 600) também foram palco de atividades ilegais da CIA. Parece que chegou a hora da Venezuela.



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