
Tarcísio de Freitas (Foto: Carla Carniel/REUTERS)
“Projeto da anistia reúne todo tipo de pacificador, muitos com arma em punho”, escreve Moisés Mendes
Moisés Mendes
Estamos sendo dragados pela pacificação liderada por Tarcísio de Freitas. Às vésperas da condenação do núcleo golpista, o Brasil é convidado a trocar os sentimentos de vingança e reparação, represados desde 2016, pelo gesto altruísta da anistia pacificadora.
O país pode substituir o que alguns ainda chamam de punitivismo pelo desejo de conciliação, moderação e reconstrução de novas bases de relacionamento e convivência na política, nas famílias, nas vizinhanças.
Estamos diante de um possível transe nacional com o projeto de pacificação de Tarcísio, Rogério Marinho, Nikolas Ferreira, Ciro Nogueira, Valdemar Costa Neto, Gilberto Kassab, Sóstenes Cavalcante, Silas Malafaia, as milícias, as fintechs e o PCC.
É o que o país espera desde o golpe de Deodoro, que nos trouxe de 1889 até aqui. É uma ideia a ser ainda assimilada, pela dimensão transformadora. É o que eles dizem.
Pacificar para salvar criminosos. Finalmente entendemos o que levou a Procuradoria-Geral da República a livrar Valdemar da lista de golpistas denunciados ao Supremo.
Não foi pela sua desimportância nas manobras que não deram certo. Valdemar tinha a missão maior, que assumiria mais adiante, de ser um dos legendários de Tarcísio.
Enquanto manobram no Congresso pela anistia e para que o governo Lula sangre até a eleição do ano que vem, os pacificadores se dedicam, claro, ao projeto da conciliação nacional.
A base social que sustenta a ideia já é sólida e precisa apenas ser melhor organizada. Há pacificadores por toda parte, alguns dissimulados, outros desativados, muitos em processo de reativação.
Falem com professores e estudantes. As universidades estão infestadas de pacificadores. Há pacificadores pregando de novo, como Bolsonaro fez em 2018, que os não pacificados sejam conduzidos à ponta da praia.
Pacificadores do Congresso não querem saber de conversinhas que possam favorecer o governo, como a isenção de IR para quem ganha até R$ 5 mil. A isenção é para ser sabotada. É preciso fazer Lula sangrar enquanto a extrema direita e o centrão pacificam o país.
A pacificação é científica e leva em conta os seguintes dados revelados por pesquisas recentes: 61% dos brasileiros rejeitam candidatos que prometam livrar Bolsonaro da cadeia. Outros 67% entendem que Bolsonaro deve desistir da política.
E 56% rejeitam a anistia para golpistas, enquanto 75% consideram que o tarifaço de Trump contra o Brasil é chantagem com motivação política.
O projeto da pacificação pela anistia dá o seguinte recado: tudo o que as pesquisas disserem será contrariado e derrubado pelos pacificadores. Não querem anistia, mas nós queremos, dizem os legendários de Tarcísio. Não querem salvar Bolsonaro, mas nós salvaremos.
Porque a pacificação é uma ideia a ser imposta, para que crie novos cenários. Como deveria ter acontecido em 8 de janeiro e falhou, mas agora não irá falhar.
A pacificação, com Jesus, com Israel, com o demônio pacificado, essa pacificação não pode ser contida. Há pacificadores com arma em punho, para que se cumpra à força e em nome de Deus o desejo da pacificação.
O ditador João Baptista Figueiredo disse em 1978, com a ditadura apodrecida e o começo da abertura política que lavaria à anistia de 1979: "É para abrir mesmo. E quem quiser que não abra, eu prendo, arrebento. Não tenha dúvidas".
O jornalista blogueiro Paulo Figueiredo, neto do general Figueiredo, disse agora a uma jornalista da Globo (a Globo ouve muito os golpistas): “O que vai ser feito por bem ou por mal é anistia ampla, geral e irrestrita”.
O avô do sujeito e todos os ditadores e torturadores escaparam por causa de uma anistia possível. Ele, a família Bolsonaro, os generais e centenas de golpistas e milicianos ainda não processados podem agora escapar pela imposição dos pacificadores.
A índole pela pacificação é hereditária e contagiante. Até o coronel Ustra seria hoje um pacificador das facções pacificadoras de Tarcísio de Freitas.
Comentários
Postar um comentário