
O governador de Minas Gerais, Romeu Zema, em entrevista coletiva (Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil)
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Ao defender Trump, o governador mineiro revela sua visão submissa do Brasil, ignora dados do comércio bilateral e repete a cartilha de Washington contra a soberania nacional.
A frase reveladora
O governador mineiro Romeu Zema, ao justificar seu alinhamento com Donald Trump, recorreu recentemente a uma expressão típica do comércio varejista: “o cliente sempre tem razão”. Na boca de um empresário que governa Minas Gerais, essa frase não é apenas um recurso de linguagem: é a síntese de uma visão subordinada do Brasil, reduzido ao papel de fornecedor dócil para a potência hegemônica.
Mas ao aplicar essa metáfora ao comércio exterior, Zema cai em uma contradição grotesca: afinal, o Brasil também é comprador dos Estados Unidos — e um comprador de alto valor agregado. Portanto, pela sua própria lógica, é o Brasil quem deveria ter “razão” diante dos EUA.
Dados do comércio Brasil–EUA
Os números desmentem a caricatura de Zema:
* 2024 (bens): segundo a USTR, os EUA exportaram US$ 49,1 bilhões ao Brasil e importaram US$ 42,3 bilhões, resultando em um superávit norte-americano de US$ 6,8 bilhões.
* 2015–2024 (total acumulado): de acordo com a AmCham Brasil, os EUA tiveram um superávit de US$ 257 bilhões nas transações de bens e serviços com o Brasil.
Mesmo em 2024, quando o Brasil obteve US$ 74,6 bilhões de superávit comercial global, a relação com os EUA permaneceu deficitária para o Brasil, reforçando a posição de vulnerabilidade.
Há décadas (desde 2007) o Brasil compra mais dos EUA do que vende, com os americanos acumulando ganhos expressivos no comércio bilateral. Quem é cliente de quem, afinal?
A lógica de subserviência
O uso da frase “o cliente sempre tem razão” revela uma mentalidade de colônia:
Zema aceita o Brasil como exportador de matérias-primas e importador de tecnologia, sem disputar industrialização nem agregar valor.
Essa é a mesma visão que nos mantém presos à divisão internacional do trabalho, onde as potências ditam regras e os países dependentes obedecem.
Ignora que relações internacionais não são balcão de loja, mas sim arenas de disputa de poder, negociação e soberania.
Contradição com a soberania
Enquanto o governo Lula defende a multipolaridade e o fortalecimento do BRICS — justamente para reduzir a dependência do dólar e ampliar a margem de soberania do Brasil — Zema prefere a rendição ao império, repetindo a cartilha de Trump e dos falcões de Washington.
Ele transforma o Brasil em “lojinha de commodities”, em vez de nação soberana que define seus rumos. Ao inverter a lógica do cliente e do fornecedor, entrega de bandeja nossa capacidade de barganha e autonomia.
Negação do Brasil soberano
Quando Zema diz que “o cliente sempre tem razão”, ele não está falando apenas de comércio: está defendendo um Brasil submisso, dependente, condenado à condição de fazenda e mineradora para o capital estrangeiro.
A verdade é que, nos dados concretos, somos também clientes dos EUA. E um cliente que compra caro e vende barato. Portanto, pela sua própria lógica mercantil, quem deveria “ter razão” é o Brasil.
Mas para Zema, a razão nunca será do Brasil soberano — será sempre de Washington. Eis a essência de sua política: a lógica da rendição travestida de pragmatismo.
Por Carlos Lima, economista e dirigente sindical.
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