Republicanos, o partido-ostentação



Corte de gastos para nós, jatinho e bife de ouro para eles: partido de Motta e Tarcísio prega austeridade, mas esbanja com dinheiro público.

O establishment reagiu com fúria a uma campanha de memes que rotulou o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta, dos Republicanos da Paraíba, como “inimigo do povo” . A cobertura de boa parte da imprensa deu a entender que os vídeos de IA nas redes eram tão perigosos quanto os atos golpistas de 8 de Janeiro.


Nesta edição, trago notas fiscais e até um vídeo que ajuda a entender a hipocrisia. Duas histórias sobre como os Republicanos, partido de Motta e o governador paulista Tarcísio de Freitas, um dos presidenciáveis da extrema direita para 2026, defendem corte de gastos no discurso, mas no dia a dia ostentação com dinheiro público.


A primeira revela os gastos exorbitantes de Hugo Motta com jatinhos particulares, pagamentos com dinheiro público do fundo partidário, no exato momento em que ele costurava sua eleição para a carga mais poderosa da Câmara. A segunda mostra o presidente do Republicanos, Marcos Pereira, jantando bife folhado a ouro em Nova York. Vamos a elas.


Um passeio milionário de Hugo Motta.

Em um intervalo de apenas duas semanas, enquanto costurava alianças para se tornar o favorito à sucessão de Arthur Lira na presidência da Câmara dos Deputados, Hugo Motta torrou pelo menos R$ 232,5 mil em voos fretados, pagamentos com dinheiro público via Fundo Partidário, para cumprir trajetórias amplamente cobertas por linhas comerciais.


As transferências ocorreram em 23 e 26 de outubro e 11 de novembro de 2024, segundos documentos fiscais e comprovantes de transferência que encontraram no Divulga SPCA , um portal mantido pela Justiça Eleitoral para monitorar os gastos bilionários dos Fundos Eleitoral e Partidário.

Para entender essa gastança — que inclui voo particular de mais de R$ 100 mil —, é preciso voltar no tempo. E lembre-se que, até o fim de outubro do ano passado, o nome de Hugo Motta mal aparecia entre os principais cotados para disputar o comando da Câmara , cargo para o qual foi eleito em fevereiro de 2025.


De forma abrupta e surpreendente, o deputado paraibano emergiu como o favorito absoluto ao cargo apenas um dia após o segundo turno das eleições municipais de 2024, realizadas em 27 de outubro.


Várias reportagens da época registraram que, em menos de 36 horas , Motta conseguiu o apoio de cinco partidos de diferentes espectros políticos — PP, MDB, Podemos, PL e até o PT — somando mais de 300 potenciais na Câmara.


O pagamento relâmpago pegou parlamentares e jornalistas de surpresa, e o deputado dos Republicanos passou de nome coadjuvante à posição de candidato de consenso, sem que ficasse claro quem articulou essa virada e como ela aconteceu tão rapidamente.


Infelizmente, não tenho essas respostas. Mas encontrei alguns documentos que revelam que essa articulação meteórica foi acompanhada por uma caríssima agenda de deslocamentos aéreos em aviões particulares . Tudo com o seu dinheiro.


Em 23 de outubro, poucos dias antes do segundo turno da eleição, Motta fretou um jatinho para voar de Campo Grande (MS) para Brasília, com retorno no mesmo dia. O voo custou R$ 59,5 mil e foi pago à empresa Táxi Aéreo Piracicaba Ltda.

Três dias após as urnas municipais se fecharem, em 26 de outubro, Motta voou de Belém para Brasília e de volta a Belém, ao custo de R$ 110 mil . Embora o objetivo da mudança não esteja detalhado nas notas fiscais, o período coincide exatamente com os bastidores da virada política que transformou Motta no nome da coalizão encabeçada por Arthur Lira para a sucessão no comando da Câmara.

A despesa aérea continuou em 11 de novembro, quando o deputado voou de Belo Horizonte para São Paulo e, depois, para Brasília, em um voo que custou mais de R$ 63 mil . No total, os três deslocamentos somam R$ 232,5 mil, todos pagos com recursos do fundo partidário dos Republicanos, partido ao qual Hugo Motta é filiado.

Os valores foram transferidos em 29 de novembro, diretamente da conta do partido no banco Itaú para a empresa de táxi aéreo. Os registros de voo e notas fiscais registram o nome do deputado como passageiro único e os republicanos como contratante formal dos serviços , representados por um dirigente chamado Joaquim Mauro.


Marcos Pereira e o bife de ouro

A segunda história que quero contar hoje é melhor assistir do que ler.


É um vídeo inédito, obtido pelas Cartas Marcadas, que mostra o presidente dos Republicanos, Marcos Pereira, em um jantar luxuoso em Nova York ao lado de outros gravados.


Você pode identificar apenas um: Gilvan Máximo, deputado federal pelo DF. Seu partido? Ó Republicanos.

Na cena, Pereira e Máximo recebe à mesa o famoso "bife de ouro" do chef Salt Bae — iguaria folheada a ouro 24k que custa até R$ 9 mil por prato . Ó vídeo foi registrado em maio de 2025 , quando foi na cidade americana para uma série de eventos com empresários e políticos brasileiros, como o Fórum de Investimentos Lide Brasil e os encontros da Esfera Brasil.


➔ Assista aqui

Em nota enviada ao Intercept, Marcos Pereira afirmou que o jantar foi pago com recursos próprios, sem qualquer reembolso da Câmara ou do partido.


O presidente dos Republicanos disse não ver contradição entre o episódio e seu discurso de austeridade, e classificou como críticas à “narrativa do 'nós contra eles'”, que ele diz rejeitar. Leia aqui na íntegra.


Os gabinetes de Hugo Motta e Gilvan Máximo também foram contatados antes da publicação desta edição de Cartas Marcadas. Nenhum deles respondeu. Caso deem retorno, a resposta será incluída na versão deste texto que será publicada no site do Intercept na próxima quinta-feira, 11.

Ku Klux Klan feito em SP

O Brasil tem tantos absurdos que alguns a gente esqueceu. Mas eu vou ser chato com esse aqui porque ele diz muito sobre o estado de coisas da violência policial no governo Tarcísio em São Paulo – e que, a partir de 2026, poderá ser exportado para todo o Brasil.


Vamos relembrar: em abril de 2025, o 9º Batalhão de Ações Especiais da Polícia Militar realizou uma cerimônia que chocou pela simbologia. Policiais diante de uma cruz em chamas, gesto que especialistas associaram à Ku Klux Klan, grupo supremacista e terrorista dos EUA.


Disso talvez você se lembre. O que pouca gente sabia é que, ao invés de assumir responsabilidades, o comandante da unidade usou a tribuna da Câmara Municipal para ameaçar e intimidar jornalistas locais que denunciaram o episódio.


A Ponte Jornalismo, como sempre quando o tema é segurança, fez uma cobertura exemplar do caso. Vale ficar de olho no trabalho da Ponte, que trata com muito cuidado de um tema central para o que vem por aí em 2026.




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