Congresso reforça desigualdade ao destinar menos emendas a cidades mais carentes

(Foto: Oswaldo Forte/Agência Belém)

Enquanto programas como o Bolsa Família destinam mais verbas para os locais mais vulneráveis, o modelo das emendas parlamentares segue uma lógica inversa

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Um levantamento feito pelo UOL revelou que a distribuição de R$ 106 bilhões em emendas parlamentares entre 2020 e 2025 aprofundou desigualdades regionais no Brasil. Os dados mostram que cidades com os piores índices de saúde, educação, renda e infraestrutura receberam, proporcionalmente, menos recursos do que municípios com melhores condições de vida.

Enquanto programas federais como o Bolsa Família e o Fundeb destinam mais verbas para os locais mais vulneráveis, o modelo das emendas parlamentares segue uma lógica inversa: o dinheiro vai para onde há apadrinhamento político, independentemente das necessidades da população. Segundo o estudo, mais de 70% das cidades brasileiras teriam recebido mais recursos se critérios técnicos tivessem sido adotados.

Exemplos mostram o descompasso. Monção (MA), um dos municípios mais pobres do país, recebeu R$ 464 por habitante. Já Zé Doca, também no Maranhão, mas com mais influência política, recebeu R$ 2.950 por morador — quase seis vezes mais.

Especialistas ouvidos destacam que a lógica das emendas é dominada por interesses eleitorais. “A alocação não é baseada na necessidade, mas na sobrevivência política”, explica o cientista político Carlos Pereira, da FGV.

Estados menos populosos, como Roraima e Amapá, também concentram recursos desproporcionais devido à maior representatividade no Congresso. Enquanto isso, grandes estados como São Paulo precisam dividir a mesma verba entre centenas de municípios.

Sem critérios técnicos, o sistema de emendas parlamentares tende a perpetuar distorções e ampliar desigualdades históricas entre os municípios brasileiros.



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